sábado, 19 de julho de 2008

Velhice

Hoje, quando fui à esteticista, fazer aquelas coisas que julgamos serem necessárias para nos sentirmos melhor, pelo menos por fora, estavam no instituto (nome pomposo que quer dizer sítio de tortura),duas irmãs com idades entre os 70 e os 75 anos de idade.
Uma, a mais velha, uma autêntica grafonola, contava a sua vida a quem a quisesse ouvir, com os mínimos detalhes, os mais sórdidos e macabros, desde as suas unhas encravadas e que devido à diabetes tinha que as vir cortar à "Lena", até à amiga que morreu da dita doença e que já lhe haviam cortado as duas pernas.
A outra, mais surda que eu sei lá, não falava muito porque como já tinha falta daquele sentido não conseguia ter uma conversa com ninguém, então de vez em quando lá lhe saiam uma ou outra frase sem nexo, do género:
Irmã velha:- Hoje a Lena tem que me cortar bem os cascos, eh,eh,eh...
Irmã nova:- Sim ,quando chegar a casa vou regar os tomates!
Nós, perdidas de riso, disfarçavamos à custa de umas dentadas no lábio, a nossa vontade de largar grandes e sonoras gargalhadas...
Enfim, a terceira idade chega a todos e às vezes nem é preciso esperar tanto para começarmos a dizer tolices e idiotices...
Há muitos que na idade tenra da adolescência começam logo a demonstrar sintomas clínicos de uma velhice precoce, não física mas mental.
Aquelas duas senhoras, pelo contrário, apesar da lerdice que as caracterizava, conseguiram pôr um instituto de beleza a rir e todas as sofredoras aliviámos um bocado a tortura a que estavamos a ser sujeitas...
"When you are old and gray and full of sleep
and nodding by the fire, take down this book,
and slowly read, and dream of the soft look,
your eyes had once,and of their shadow deep"

By Yeats

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